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GLOSSÁRIO

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Glossários são listas de palavras com explicações chamadas glosas. Pode-se dizer que já estavam presentes na Antiguidade, mas seu desenvolvimento e popularidade ocorrem na Idade Média. Como o latim era a língua culta, os glossários eram trilíngues, sendo, em geral, compostos com o latim, as línguas vernáculas e, às vezes, o grego. Eram usados mais pelos professores para auxiliar a interpretação de textos e estavam, em geral, a eles integrados, para explicar o sentido de palavras obscuras. Com o tempo, tornaram-se mais autônomos, sendo organizados em ordem alfabética ou com outra forma de sistematização, (FARIAS, 2007) e podiam constituir um conjunto de termos específicos a determinado campo de conhecimento. Petri e Medeiros (2013) esclarecem que:

Os dicionários, os vocabulários, bem como os glossários são lugares de memória na língua [...]. Memória que não se faz sem desvãos, interditos, apagamentos e deslocamentos; memória tensa, tecida na e sobre a língua nos procedimentos tornados prática no fazer dicionarístico [...]. 

[...] [U]m glossário, qualquer que seja, não tem o mesmo estatuto do dicionário: este se apresenta na sociedade como lugar de consulta da língua – monumento de um patrimônio − e, como tal, adentra espaços escolares e institucionais, espaços privados e públicos quaisquer. Já o glossário não se apresenta como tal; outro leitor aí se inscreve. Grosso modo, diremos que se destina a um público mais específico; mais restritos são os seus espaços de circulação. Se um dicionário produz o efeito de completude, diremos que no glossário o efeito é outro, o de parte especial e específica na língua, isto é, o glossário aponta para uma especificidade qualquer, seja de um texto literário, seja de uma região, por exemplo. (PETRI; MEDEIROS, 2013, p. 50; 51)

Dada a complexidade da produção contemporânea, consideramos a variedade de conceitos e a velocidade com a qual eles são apropriados, criticados, esquecidos e supostamente redescobertos. Seja como forma de exploração de um campo ampliado, como estratégia de afirmação de autoridade ou, ainda, de inserção em esferas de poder e de influência, profissionais e pesquisadores fazem o uso recorrente de metáforas, neologismos e empréstimos mais ou menos indevidos de outros campos. Mesmo sem pretensões de nos adequarmos ao cânone lexicográfico, o material produzido por estudantes da FAU-UnB já constitui um bom levantamento de termos que precisam de aprofundamento.

Para o semestre 2/2022, desenvolveremos um glossário com ênfase na atividade projetual, com o título provisório de Glossário de Ações e Reações de Projeto. Por uma lado, de modo a explorar a chamada “crise do objeto” (MONTANER, 2008), convidamos os grupos de estudantes a identificar os “verbos de ação” (LEONÍDIO, 2020; 2021) ou, alternativamente, de reação, que melhor representam os rumos da produção contemporânea. Duas publicações recentes que tratam da realidade brasileira e latino-americana – “8 Reações para o Depois” (ALTBERG; MENEGUETTI; KOZLOWSKI, 2019) e “Urbanismo Ecológico na América Latina” (MOSTAFAVI; DOHERTY; CORREIA; DURÁN CALISTO; VALENZUELA, 2019) – permitem antecipar que esta será uma boa estratégia para agrupar, criticamente, através de verbos o conjunto aparentemente desconexo de agenciamentos coletivos sobre o espaço. Por outro lado, buscamos nos aproximar da experiência desenvolvida por Enrique Walker numa série de ateliês de projeto e seminários teóricos em que estudantes exploraram ideias aceitas na cultura arquitetônica contemporânea (WALKER, 2017). Com Walker, entendemos que reconhecer as práticas correntes – até mesmo os clichês – da produção atual serve não apenas para estabelecer um juízo crítico como também para promover sua desestabilização (WALKER; NAJLE, 2014) e, possivelmente, apontar caminhos para novas práticas.

Cada grupo de estudantes deverá escolher um termo e explicá-lo a partir de pesquisas, cujas autoras e autores de referência devem ser indicados. Cada verbete do glossário pode conter até três itens remissivos – um remissivo é outro termo estreitamente ligado àquele que é objeto de interesse. Na formulação dos glossários de Arquitetura e Urbanismo, as glosas acompanhadas por fotografias, ilustrações e desenhos, que podem iluminar o que as palavras dizem, são muito bem-vindas.


Bom trabalho!

referências

ALTBERG, Ana; MENEGUETTI, Mariana; KOZLOWSKI, Gabriel (coord.). 8 reações para o depois = 8 reactions for afterwards. Tradução: Pedro Sette-Câmara. Rio de Janeiro: Rio Books, 2019. Disponível em: <https://issuu.com/g.kozlowski/docs/200531_8_reactions_book>. Acesso em: 21 out. 2022.


FARIAS, Emilia Maria Peixoto. Uma breve história do fazer lexicográfico. Revista Científica Trama, Marechal Cândido Rondon, v. 3, n. 5, p. 89-97, jan./jun. 2007. Disponível em: <https://e-revista.unioeste.br/index.php/trama/article/view/961>. Acesso em: 21 out. 2022.


LEONIDIO, Otavio. Mundos de ação: arte e arquitetura depois da política. Viso: Cadernos de Estética Aplicada, Rio de Janeiro, v. 14, n. 26, p. 366-440, jan./jun. 2020. Disponível em: <http://revistaviso.com.br/article/355>. Acesso em: 21 out. 2022.


LEONIDIO, Otavio. Desvio-crítica: notas sobre o agir. In: MILAGRES, Daniel; ROSENBUCH, Laura; MÜLLER, Manuela (org.). Autoria crítica: conversas sobre a posição do autor no campo ampliado da arquitetura. Rio de Janeiro: Numa Editora, [2021]. p. 60-82.

MONTANER, Josep Maria. Sistemas arquitetônicos contemporâneos. Barcelona: Gustavo Gili, 2009.

MOSTAFAVI, Mohsen; DOHERTY, Gareth; CORREIA, Marina; DURÁN CALISTO, Ana María; VALENZUELA, Luis (ed.). Urbanismo ecológico en América Latina = Urbanismo ecológico na América Latina. Tradução: Camilla Bogéa, Moisés Puente, Joana Canedo e Paulo Silveira. Barcelona: Gustavo Gili, 2019.

PETRI, Verli; MEDEIROS, Vanise. Da língua partida: nomenclatura, coleção de vocábulos e glossários brasileiros. Letras: Revista do Programa de Pós-graduação em Letras, Santa Maria, v. 23, n. 46, p. 43-66, jan./jun. 2013. Disponível em: <https://doi.org/10.5902/2176148511725>. Acesso em: 21 out. 2022.

WALKER, Enrique. Bajo constricción; El diccionario de ideas recibidas. Santiago do Chile: Ediciones ARQ, 2017.

WALKER, Enrique. Ideas recibidas. ARQ, Santiago do Chile, n. 95, p. 92-95, abr. 2017. Disponível em: <https://www.redalyc.org/pdf/375/37550590011.pdf>. Acesso em: 21 jan. 2017.

WALKER, Enrique; NAJLE, Ciro. Out of Time 21/ Enrique Walker. Enrique Walker conversa con Ciro Najle. Columbia University, Nueva York, abril/ mayo 2014. PLOT, Buenos Aires, p. 160-169. jun./ jul. 2014.

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