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glossário

ARQUITETURA DE ALTA TECNOLOGIA

Arquitetura Alta Tecnologia.JPG

   Detalhe da fachada do Edifício-sede da Swiss Re (2004), em Londres, projeto de Foster Associates. Foto de Leandro Cruz.   

[...] Em oposição às cidades voadoras ou oblíquas dos novos utópicos e à hostilidade de muitos quanto a uma uniformização em detrimento da inscrição das edificações em seu contexto, os proponentes da arquitetura de alta tecnologia elaboraram objetos autônomos, mas que introjetavam as tensões urbanas e engenhosamente preenchem seus requisitos de uso.

Jean-Louis Cohen, O Futuro da Arquitetura desde 1889: Uma História Mundial, trad. Donaldson M. Garschagen, 2013 [2012]. [ p. 438 ]

Jordana Torres de Oliveira

Marília Campos Martins de Oliveira

[ jun. 2021 ]

remissivos

A Arquitetura de Alta Tecnologia também costuma ser tratada a partir do termo original em inglês “High-Tech”, uma abreviatura para “high technology”. Esta tendência arquitetônica surgiu a partir dos anos 1970, tendo como mote a compreensão de que arquitetura e engenharia devem usar os avanços tecnológicos e de materiais para construção dessas obras. Também pode ser descrita como uma arquitetura de engenharia elegante, ou do galpão sem decoração, vinculada ao chamado “produtivismo” moderno (FRAMPTON, 2015). Considerando-se o conjunto de obras realizadas, especialmente em relação aos desafios técnicos encontrados nas primeiras décadas de seu desenvolvimento, pode-se dizer que este movimento propôs algumas mudanças referentes ao que vinha sendo praticado até então na arquitetura moderna.

É preciso reconhecer, igualmente, que a Arquitetura de Alta Tecnologia tornou-se essencialmente um estilo, tendo como características o uso do metal e o vidro, o emprego de tecnologia e materiais da arquitetura industrial em programas comerciais e residenciais urbanos, entre outras. Prioriza-se a flexibilidade de usos, com espaços de máxima eficiência, sem interrupções, por exemplo, dos pilares internos, tendo geralmente planta-baixa aberta e estrutura aparente, deixando evidenciados instalações e equipamentos, motivo pelo qual também é conhecida como Expressionismo Estrutural. Arquitetos representantes deste movimento incluem Michael Hopkins, Nicholas Grimshaw, Norman Foster, Richard Rogers e Renzo Piano, dentre outros (DAVIES, 2011; COHEN, 2013; FRAMPTON, 2015; FOSTER, 2017).

O estilo é muitas vezes interpretado como uma glorificação da tecnologia, enfatizando o objetivo funcional de cada elemento do edifício e incorporando elementos que mostram a natureza técnica dos componentes. O Centro Georges Pompidou em Paris, de Piano e Rogers, é comumente apontado como o primeiro edifício High-Tech, por exemplificar a tecnicidade e o foco na exposição dos elementos de serviço. Existe certa dualidade quando se observa a Arquitetura de Alta Tecnologia, pois embora na teoria sejam enfatizadas a funcionalidade e eficiência, observa-se que os edifícios mais simbolizam e representam a tecnologia do que investigam seu potencial técnico e construtivo.

O desenvolvimento dessa arquitetura até a atualidade acrescentou nuances ao estilo. Atualmente, busca-se maior foco na sustentabilidade, a exemplo da abordagem chamada Eco-Tech, que busca empregar as tecnologias mais avançadas para mitigar os efeitos das construções sobre o meio ambiente (LE BOURLEGAT, OLIVO e COSTA, 2015). Um edifício em altura, por exemplo, pode ser um grande problema em relação ao aspecto ambiental, utilizando energia de forma exagerada, bloqueando os fluxos de vento e contribuindo para a formação de ilhas de calor. Um edifício Eco-Tech, neste caso, recorreria a formas de minimizar esse impacto, com o uso de energia solar, energia eólica, painéis inteligentes e torres de vento. Nessa condição, a tecnologia deve ser utilizada de forma inteligente e sustentável, o que requer a compatibilização do projeto com conceitos de aproveitamento da luz natural, ventilação e materiais que podem ser reciclados. O uso da tecnologia atual possibilita mecanismos onde o ambiente, usuários e a arquitetura interagem de forma mais direta: brises que seguem a iluminação solar, portas que abrem ambientes para que seu uso mude, implementação de geração da própria de energia que o edifício consumirá. Nem sempre, no ocorre no entanto, uma boa articulação com o tecido urbano onde o projeto se insere, como se vê no comentário abaixo

Até o momento, o ponto máximo alcançado [pelo] escritório Foster Associates em sua "agenda verde" é a torre de escritórios da Swiss Re, terminada na zona central de Londres em 2004.  Com planta radial sem pilares, módulo central de elevadores e serviços e estrutura circular de duas grelhas no perímetro, este edifício circular vai ficando mais largo à medida que sobe e, no fim, inclina-se abruptamente em direção ao ápice. [...] Retrabalhando conceitos experimentados pela primeira vez por Buckminster Fuller e Norman Foster no projeto "Climatroffice", de 1971, o edifício da Swiss Re incorpora átrios em seu espaço radial para escritórios em cada pavimento. Além disso, o perfil aerodinâmico do edifício, conhecido como "gherkin" (pepino), reduz o efeito habitual pelo qual os edifícios altos e ortogonais direcionam os ventos para o nível da rua. Esse espetacular triunfo teve, porém, o seu lado negativo, na medida em que, ao contrário de outros arranha-céus projetados pela Foster Associates, essa forma hermética e autossuficiente não tem nenhuma característica que module sua imensa escala e a faça correlacionar-se de maneira mais rítmica com o tecido urbano circundante. (FRAMPTON, 2015, p. 447-448, grifo do autor)

A condição contemporânea impõe ainda outros desafios que expõem as limitações da Arquitetura de Alta Tecnologia. Dada sua inserção em altos circuitos globais, na cultura do espetáculo, e ao refinamento mesmo de seus acabamentos, trata-se de uma produção que facilmente recai no problema da fetichização da mercadoria (FOSTER, 2017). Ademais, ainda são poucos os exemplos em que as propriedades arquitetônicas se mostraram a serviço de uma dimensão cívica mais profunda (FRAMPTON, 2015; 2020).

referências

COHEN, Jean-Louis. O futuro da arquitetura desde 1889: uma história mundial. Tradução: Donaldson M. Garschagen. São Paulo: Cosac Naify, 2013.

DAVIES, Colin. Thinking about architecture: an introduction to architectural theory. Londres: Laurence King, 2011.

FOSTER, Hal. O complexo arte-arquitetura. Tradução: Célia Euvaldo. São Paulo: Ubu, 2017.

FRAMPTON, Kenneth. História crítica da arquitetura moderna. 4. ed. Tradução: Jefferson Luiz Camargo e Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Martins Fontes, 2015.

FRAMPTON, Kenneth. Modern architecture: a critical history. 5. ed. Londres; Nova Iorque: Thames and Hudson, 2020.

HORTA, Maurício. Sustentabilidade high tech. Revista Técnhe, São Paulo, n. 141, p. 30-38, 2008.

LE BOURLEGAT, Camila; OLIVO, Mariane; COSTA, Korina. Richard Rogers e a transição do high-tech para o eco-tech. In: Encontro Nacional de Ensino, Pesquisa e Extensão. Anais... Presidente Prudente, 2015. Disponível em: http://www.unoeste.br/site/enepe/2015/suplementos/area/Humanarum/Arquitetura%20e%20Urbanismo/RICHARD%20ROGERS%20E%20A%20TRANSI%C3%87%C3%83O%20DO%20HIGH-TECH%20PARA%20O%20ECO-TECH.pdf | Acesso em: 21 mai. 2021.

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