top of page

glossário

ANTROPOCENO

Considerando esses e vários outros crescentes impactos das atividades humanas na terra e na atmosfera, que acontecem em todas as escalas possíveis – inclusive global –, parece-nos mais do que apropriado enfatizar o papel central da humanidade na geologia e na ecologia propondo o uso do termo Antropoceno para a época geológica atual. Os impactos das atividades humanas vão continuar por longos períodos. [...]

CRUTZEN, Paul J; STOERMER, Eugene F. O antropoceno. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, sem número, 06 nov. 2015.

Jade Abreu Macedo

Maria Carolina Lapa Lobo Nogueira

Victoria de Almeida Serednicki

[ jun. 2022 ]

remissivos

Na virada do milênio um artigo de autoria de Crutzen e Stoemer (2000)  cunhou o termo “antropoceno” como designação de nossa era geológica, o período mais avançado de uma longa sucessão linear do planeta. O antropoceno é definido como novo período da era cenozóica onde as ações humanas atingiram tamanha proporção que foram e estão sendo capazes de afetar o funcionamento do clima e do ecossistema no planeta.

Os humanos promoveram a acidificação do solo e das águas, poluíram o ar, a terra, os lagos e os oceanos e vêm drenando os recursos da natureza acima de sua capacidade de reabastecimento. Isso resultou na extinção em massa de espécies e biomas e segue em um ritmo de desenvolvimento  jamais visto nas eras anteriores.

O termo “antropoceno” atua como um marcador de que a humanidade tornou-se, ela mesma,  uma força geológica global (STEFFEN; CRUTZEN; MCNEILI, 2007). A ideia é de que esse período da Terra é marcado  pelo papel do ser humano e do coletivo (sociedade) na geologia e na ecologia, os humanos rompem com a condição de ser um animal como  qualquer  outro e se apropriam do uso da matéria e da energia da Terra, tornando-se agentes geológicos globais. Essa ruptura na forma de se posicionar separadamente da natureza  gerou um impacto na atmosfera, biosfera, no ciclo das águas e de outros ciclos bioquímicos.

O antropoceno teria se iniciado com a Revolução Industrial, quando houve a difusão dos usos de energias baseadas em fontes fósseis e consequente aumento da  geração de gases de efeito estufa. Posteriormente, vale ressaltar um processo de aceleração da poluição após a Segunda Guerra Mundial e, atualmente, estamos vivendo um  quadro de devastação ainda mais significativo devido à replicação de padrões predatórios por parte dos populosos países em desenvolvimento.

A expansão das forças produtivas favoreceu o crescimento da população, das estruturas urbano-industriais e do consumo dos recursos naturais. A tecnociência  possibilitou romper barreiras que delimitavam o espaço do homem no planeta e, portanto, o crescimento populacional deixou de ser  meramente biológico para  se tornar um agente transformador de mudanças nas condições de equilíbrio ecológico no planeta.

Estamos passando por um momento em que se enfrentam realidades e desafios inéditos. Diante disso, o cenário político segue em estado de incertezas, com a dúvida sobre como seguirá o rumo das consequências biofísicas do antropoceno.

A arquitetura também se torna uma importante ferramenta para repensar o espaço ao problematizar a forma predatória de habitar o planeta. Usá-la como campo de pesquisa e prática – como meio de ação acarreta em modificações nas configurações materiais e espaciais. Para conter o processo de degradação planetária,  é preciso pensar em alternativas para construir  mais  dinâmicas , que avancem e reajam conforme as mudanças do meio ambiente, vinculando ética, funcionalidade e estética , com ênfase nas  energias renováveis e na redução de gases tóxicos à atmosfera. A adoção de medidas de prevenção e cautela repercute no   o uso de  materiais que se adequem às necessidades ecológicas e na proposição de edifícios que consumam um  mínimo de aportes energéticos. Ainda é preciso repensar as cidades  para frear a devastação do planeta.

A cidade do antropoceno exige dos pesquisadores de Arquitetura e Urbanismo mais pesquisas, diretrizes e estratégia projetual. Os desafios de projeto incluem trabalhar em um ambiente de espaço finito e extremamente populoso, com uma alta demanda por recursos naturais e, ainda assim, conseguir oferecer espaços de convívio público de qualidade. Em direção à preservação e à valorização do meio ambiente, é preciso atribuir significado simbólico aos espaços públicos, visando criar um senso comum na sociedade sobre a importância de sua manutenção. Dessa forma os humanos poderão pensar a respeito da expansão das cidades aliando-a ao desenvolvimento sustentável.

referências

ALVES, José Eustáqui Diniz. Antropoceno: a Era do colapso ambiental. Centro de Estudos Estratégicos da FIOCRUZ. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 16 jan. 2020. Disponível em: https://cee.fiocruz.br/?q=node/1106 | Acesso em: 21 fev. 2022.

ARTAXO, Paulo. Uma nova era geológica no nosso planeta:  O Antropoceno? São Paulo, Revista USP, n. 103. Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i103p13-24 | Acesso em: 18 abr. 2022.

CRUTZEN, Paul J; STOERMER, Eugene F. O antropoceno. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, sem número, sem página, 06 nov. 2015. Disponível em: https://piseagrama.org/o-antropoceno | Acesso em: 21 fev. 2022.

LATOUR, Bruno. Onde aterrar?.  PISEAGRAMA, Belo Horizonte, número 14, página 100-109, 2020. Disponível em: https://piseagrama.org/onde-aterrar/ | Acesso em: 21 fev. 2022.

PÁDUA, José Augusto. Vivendo no antropoceno: incertezas, riscos e oportunidades. In: OLIVEIRA, Luiz Alberti (org.). Museu do Amanhã. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2015. p. 60-65. Disponível em: https://museudoamanha.org.br/livro/Livro_MdA_DIGITAL_PORTUGUES.pdf  | Acesso em: 18 abr. 2022.

STEFFEN, Will; CRUTZEN Paul J.; MCNEILL, John R. The Anthropocene: are humans now overwhelming the great forces of nature?. AMBIO: A Journal of the Human Environment, Estocolmo, v. 36, n. 8, p. 614-621, December 2007. Disponível em: https://doi.org/10.1579/0044-7447(2007)36[614:TAAHNO]2.0.CO;2 | Acesso em: 14 jun. 2022.

bottom of page