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glossário

CRUZAMENTO

Cruzamento.jpg

A Estaca Zero como marcação do cruzamento entre o Eixo Monumental e o Eixo Rodoviário de Brasília.. Fonte: Arquivo Público do Distrito Federal. Disponível em: https://www.arquivopublico.df.gov.br/estaca-zero/ | Acesso em: 21 dez. 2021.

Dito isto, vejamos como nasceu, se definiu e resolveu a presente solução:
1 – Nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dêle toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz.
[...]
5 – O
cruzamento dêsse eixo monumental, de cota inferior, com o eixo rodoviário-residencial impôs a criação de uma grande plataforma liberta do tráfego que não se destine ao estacionamento ali, remanso onde se concentrou lògicamente o centro de diversões da cidade, com os cinemas, os teatros, os restaurantes, etc.

COSTA, Lucio. P.P.B. [Plano Piloto de Brasília, original apresentado no Concurso; 12 de março de 1957]. Rio de Janeiro: [s.n.], 1957. [ p. 3; 4 ].

Amanda Moura

Clara Abreu

Mariana Santana

Emitido no ano de 1956, o Edital para o Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital estabeleceu os critérios para o plano da nova sede administrativa do Brasil, tendo por requisitos o traçado básico da cidade e o relatório justificativo. Em cerca de 26 projetos apresentados (COSTA, 2002), a proposta do arquiteto Lucio Costa se destacou e foi o plano vencedor.

No Relatório do Plano Piloto, Lucio Costa inicia sua explanação propondo a criação de dois eixos definidores da estrutura da cidade, cruzando-se em ângulo reto, remetendo ao sinal da cruz. O eixo leste-oeste corresponde ao centro cívico e administrativo, sendo denominado Eixo Monumental. O eixo norte-sul foi arqueado, de modo a se adaptar à topografia existente, sendo denominado Eixo Rodoviário, ao longo do qual estaria localizada a principal área residencial da cidade. Essa concepção proposta pelo arquiteto remete a práticas urbanísticas seculares, como exposto por Francisco Leitão:

O emprego de eixos faz parte da tradição da arquitetura e pressupõe formalmente valores primários, tais como ordem, dominância e permanência. E o cruzamento desses eixos (cardus e decumanus) remonta a uma tradição dos acampamentos romanos, que viriam a servir de modelo para a formação de cidades permanentes. [...] (LEITÃO, 2009, p. 101, grifos do autor)

O Eixo Rodoviário, mais conhecido regionalmente como Eixão, tem mais de 13 quilômetros de extensão. Ao longo dele, encontram-se distribuídas as superquadras, que a cada quatro constituem uma unidade de vizinhança, servidas de comércios, escolas e espaços religiosos, além de espaços para lazer. As superquadras são circundadas por grandes massas de vegetação, que dão ao Eixo Rodoviário um aspecto agradável.

O Eixo Monumental, que divide o Plano Piloto em Asa Norte e Asa Sul, estende-se por 16 quilômetros, indo da Praça dos Três Poderes até a estação rodoferroviária. Segundo Ficher e Palazzo, a concepção de Costa responde aos preceitos históricos de monumentalidade seguindo certos ideais compositivos:

[...] E a solução paradigmática por excelência, é o recurso à composição monumental: eixos reguladores, organização geométrica, simetria, isolamento das partes, disposição regrada de volumes e marcação de pontos focais com edifícios imponentes e obras de arte, tudo isso organizado segundo uma relação de cheios e vazios que se diferencia do tecido trivial do restante da cidade (FICHER; PALAZZO, 2005, p. 50).

Para esse eixo, foram concebidos os edifícios e os espaços com caráter de relevância e de imponência para compor o centro cívico e administrativo da cidade: a Esplanada dos Ministérios, o Congresso Nacional, a Catedral de Brasília, o Supremo Tribunal, o Palácio do Itamaraty e do Planalto e a Torre de TV. A partir do cruzamento desses eixos, Lucio Costa elabora a descrição de uma grande plataforma, o centro de diversão da cidade:

10 – Nesta plataforma onde, como se via anteriormente, o tráfego é apenas local, situou-se então o centro de diversões da cidade (mistura em têrmos adequados de Piccadilly Circus, Times Square e Champs Elysées). A face da plataforma debruçada sôbre o setor cultural e a esplanada dos ministérios, não foi edificada com exceção de uma eventual casa de chá e da Ópera, cujo acesso tanto se faz pelo próprio setor de diversões como pelo setor cultural contíguo, em plano inferior. [...] (COSTA, 1957, p. 7)

Projetada como o meio articulador apenas dos setores da cidade, a Plataforma Rodoviária foi pensada de modo a proporcionar um ponto de encontro e convergência cultural entre os moradores das cidades-satélites de Brasília. Assim, a Rodoviária é um elemento de extrema importância e se define como um estruturador da cidade, fazendo a transposição dos diferentes níveis entre os cruzamentos dos eixos. O Eixo Rodoviário é rebaixado para um nível inferior do nível térreo da plataforma da Rodoviária, por onde passa o Eixo Monumental. O rebaixamento da pista é conhecido por “Buraco do Tatu”, nome dado durante a sua construção em 1960. Desta maneira, é possível que nenhum fluxo seja interrompido em nenhuma das direções dos dois eixos e se crie um espaço para conexão metropolitana.

A configuração do Setor de Diversões Culturais não seguiu completamente o que foi idealizado no Relatório do Plano Piloto. Isso se deu, principalmente, pelo fato de que a cidade “não tinha população e vitalidade compatíveis com a existência desses centros na forma como foram concebidos” (LEITÃO, 2009, p. 57).

A construção do Setor de Diversões se iniciou pelo Setor Sul, que era composto por 18 lotes no total, adquiridos por diferentes compradores. Desse modo, sua consolidação se deu de modo não ordenado, gerando problemas de implantação e afetando a integração das áreas públicas. Esse espaço é conhecido popularmente como CONIC, dada a relevância do primeiro prédio construído e nomeado oficialmente de Edifício Conic. No início dos anos 1960, o centro do Plano Piloto concentrava as atividades comerciais, sendo determinante para o desenvolvimento desse Setor (REZENDE, 2014, p. 57). O local se manteve como um atrativo para públicos diversos, não apenas para os funcionários do entorno, como também para outros grupos sociais. Nas últimas décadas, com a desconcentração de atividades e usos idealizadas para o Plano e o consequente esvaziamento da região, acompanha-se uma mudança no perfil dos usuários.

A desvalorização imobiliária, somada ao aumento da criminalidade, reforçou o estigma de lugar perigoso, afastando consumidores do Conic. Com o intuito de promover ações de requalificação, os condôminos organizados, constituíram uma prefeitura. Nas deliberações sobre os problemas que afetavam o setor, acreditava-se que a sua decadência seria causada pelo estado de degradação física, falta de manutenção, ou mesmo por determinados estabelecimentos e seus frequentadores que prejudicavam a sua imagem. (REZENDE, 2014, p. 71-72)

Também localizado no Setor de Diversões Sul, assim como o CONIC, encontra-se o edifício Touring Club, projetado por Oscar Niemeyer e concluído em 1967. No plano de Lucio Costa, o prédio foi pensado para ser uma casa de chá conectando os diferentes setores propostos da cidade e articulando a plataforma da Rodoviária com a Esplanada dos Ministérios (LEITÃO, 2009, p. 58). Entretanto, ao longo dos anos, a responsabilidade da gerência desse espaço foi passada para diversos órgãos sendo a sua preservação e uso afetados.

O Setor de Diversões Norte foi concebido posteriormente e, diferentemente do Sul, os lotes foram comprados por apenas um proprietário. Esse espaço foi destinado para a implantação do Conjunto Nacional de Brasília, inaugurado em 1971, sendo o primeiro shopping center da cidade. Funcionou por um bom tempo como o maior centro comercial e de lazer da capital e, até hoje, desempenha um importante papel na vida econômica da cidade, criando um fluxo intenso com a rodoviária na plataforma superior oeste. Já no lote oposto ao Touring, foi implementado o Teatro Nacional, também projetado por Niemeyer.

[ Fig. 1 ]
Mapa  indicando o cruzamento entre os eixos Rodoviário e Monumental, com as principais edificações. Produzido pelos autores, a partir de dados do GeoPortal

Palácio do Planalto

Concebido por Oscar Niemeyer, o Palácio do Planalto é a sede do poder executivo do Governo Federal, onde também se localiza a Casa Civil e o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. É um dos edifícios que compõem a Praça dos Três Poderes, além de ter sido um dos primeiros edifícios a serem construídos, em 1958.

Supremo Tribunal Federal

Um dos prédios que compõem a Praça dos Três Poderes, o Palácio foi Concebido por Oscar Niemeyer, construído para abrigar o Supremo Tribunal Federal, instância mais elevada do poder judiciário no país.

Congresso Nacional

Concebido por Oscar Niemeyer e inaugurado em 1960, o Congresso Nacional é um dos edifícios que compõem a Praça dos Três Poderes, sendo considerado um marco da capital. Na frente do edifício dispõe-se um grande gramado, utilizado pela população como palco de manifestações e protestos.

Palácio da Justiça

Projetada por Oscar Niemeyer, serve de sede para o Ministério da Justiça. Completa o fechamento do Eixo Monumental junto ao Palácio Itamaraty e, semelhante a este, conta com jardins aquáticos de Burle Marx.

Palácio Itamaraty

Inaugurado oficialmente em 1970, o Palácio Itamaraty abriga o Ministérios das Relações Exteriores do Brasil, é composto atualmente pelo Palácio e pelos Anexos I e II. Concebido pelo arquiteto Oscar Niemeyer.

Catedral Metropolitana de Brasília

Concebida por Oscar Niemeyer e considerada a obra-prima de sua carreira, Catedral Metropolitana de Brasília está localizada na Esplanada dos Ministérios no Eixo Monumental. 

Museu Nacional

Concebido ainda no plano de Lucio Costa para integrar o Setor Cultural Sul da nova capital, o Museu Nacional foi concluído apenas em 2006. Utilizado para exposições itinerantes, palestras, mostra de filmes e outros eventos.

Biblioteca Nacional de Brasília

Inaugurada em 2008, a Biblioteca Nacional foi idealizada na década de 1950, com o projeto da nova Capital. Como todos os edifícios principais da Esplanada, foi projetada por Oscar Niemeyer.

[ jan. 2022 ]

remissivos

Setor de Diversões Sul

Conhecido popularmente como CONIC, esse é um grande centro comercial e de escritórios na região sul da rodoviária. Faz parte do grande centro de Brasília.

Edifício Touring

Concebido por Oscar Niemeyer, foi projetado para ser casa de chá e atender os transeuntes do centro da Capital. Durante anos, sem um proposta fixa de uso, teve várias funcionalidades e atualmente passa por reforma.

Rodoviária

Projetada como meio articulador dos setores da cidade, a Plataforma Rodoviária também foi pensada de modo a proporcionar um ponto de convergência cultural e de encontro entre os moradores de Brasília.

Teatro Nacional

Localizada no extremidade oposta ao Edifício Touring, o Teatro Nacional também foi concebido pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Espaço cultural com três salas de apresentação, hoje se encontra fechado sem data prevista de reabertura.

Conjunto Nacional

Inaugurado em 1971, o shopping center Conjunto Nacional se localiza na porção norte da plataforma rodoviária. Desde de sua inauguração é um dos centros comerciais mais importante da capital.

Torre de TV

Marco visual da cidade, foi aposentado de suas atividades primárias e hoje funciona como mirante.

Brasília é um documento importante do pensamento urbanístico do século XX, razão pela qual tornou-se Patrimônio Mundial em 1987. O tombamento foi seguido na elaboração de um plano para a proteção de seu conjunto urbanístico, que considerou as características essenciais das quatro escalas distintas em que a cidade foi concebida (GOVERNO DE BRASÍLIA, 2017, p. 4). Em relação ao ponto de cruzamento dos eixos, ressalta-se a pertinência deles para a escala gregária, definida pelo centro urbano, onde estão localizados os Setores de Diversões e a Plataforma Rodoviária. Nos documentos de gestão do patrimônios estão definidas as diretrizes obrigatórias para a conservação dessas Unidades de Preservação, embasando a tomada de decisão das futuras restaurações e ações de conservação a fim de manter a integridade e legibilidade do bem tombado.

referências

COSTA, Lucio. P.P.B. [Plano Piloto de Brasília, original apresentado no Concurso; 12 de março de 1957]. Rio de Janeiro: [s.n.], 1957. Disponível em: https://www.jobim.org/lucio/handle/2010.3/3580 | Acesso em: 21 out. 2021.

COSTA, Lucio. Registro de uma vivência. São Paulo: Empresa das Artes; Brasília: Editora UnB, 1995.

COSTA, Lucio. Relatório do Plano Piloto de Brasília. 4. ed. Brasília: Iphan-DF, 2018. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/lucio_costa_miolo_2018_reimpressao_.pdf | Acesso em: 21 dez. 2021.

FICHER, Sylvia; PALAZZO, Pedro Paulo. Paradigmas urbanísticos de Brasília. In: GOMES, Marco Aurélio (org.). Urbanismo Modernista no Brasil, 1930-1960. Cadernos PPG-AU/FAUFBA, Salvador, ano 3, n. especial, p. 49-71, 2005.

GOVERNO DE BRASÍLIA. Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília. Brasília: GDF, 2017. Disponível em: http://www.seduh.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2017/11/Minuta-PLC-PPCUB.pdf | Acesso em: 14. set. 2021.

LEITÃO, Francisco (org.). Brasília 1960-2010: passado, presente e futuro. Brasília: Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, 2009. Disponível em: http://biblioteca.cl.df.gov.br/dspace/handle/123456789/1686 | Acesso em: 21 dez. 2021. 

PAVIANI, Aldo. Brasília: urbanismo pelos topônimos. Arquiteturismo, São Paulo, ano 01, n. 011-012.02, Vitruvius, jan. 2008. Disponível em: https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/01.011-012/1393 | Acesso em: 22 ago. 2021.

REZENDE, Rogério. Centro de Brasília, projeto e reconfiguração: o caso do Setor de Diversões Sul – Conic. 2014. 133 f., il. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) — Universidade de Brasília, Brasília, 2014. Disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/17650 | Acesso em: 20 set. 2021.

ROSSETTI, Eduardo Pierrotti. Lucio Costa e a Plataforma Rodoviária de Brasília. Arquitextos, São Paulo, ano 10, n. 119.03, Vitruvius, abr. 2010. Disponível em: https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.119/3371 | Acesso em: 20 set. 2021.

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