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glossário

REGIÕES ADMINISTRATIVAS, 1859-1959

RA-1859-1959.png

Mapa do Distrito Ferderal, com destaque para as Regiões Administrativas criadas entre 1859 e 1959. Produzido por Letícia Fidelix.

O propósito era primeiro ocupar integralmente os limites do centro urbano para somente depois ampliá-lo através de cidades-satélites. Entretanto, em março de 1958, passados apenas seis meses do lançamento do edital para o concurso do plano urbanístico da cidade, o território de Brasília já comportava população próxima aos 30 mil habitantes. [...]

BRITO, Jusselma Duarte de. De Plano Piloto a metrópole: a mancha urbana de Brasília. 2009. 346 f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de Brasília, Brasília, 2009. [ p. 88, grifo da autora ]

Júlia Bianchi

Maria Eduarda Azambuja

Natália Mattos

[ Fig. 1 ]
Quadro de evolução da ocupação urbana no Distrito Federal. Produzido pelas autoras, a partir de dados do GeoPortal.

[ jan. 2022 ]

remissivos

Como observado por Jusselma Duarte Brito (2009), antes mesmo da inauguração de Brasília, as cidades-satélites, assim então denominadas, já se erguiam no território que viria a ser a nova Capital Federal. Na avaliação de Maria Fernanda Derntl (2008), partindo de uma escala do território, a construção de Brasília prenuncia uma lógica de urbanização baseada em uma dinâmica de centro, o Plano Piloto, e de periferia, com as cidades-satélites. Para Derntl, as dinâmicas centro-periferia transpassam a mera contraposição entre formal e informal, planejamento e desordem, entendendo que, até os anos 1970, o “[...] Plano Piloto e os núcleos-satélites foram criados de modo articulado e interdependente, tendo por base paradigmas similares, tanto na escala da organização urbana como na maneira de se conceber o território.” (DERNTL, 2019).

 

O período entre 1859 e 1959 compreende o surgimento dos primeiros núcleos urbanos no que atualmente é o Distrito Federal, incluindo núcleos urbanos preexistentes como Planaltina e Brazlândia. As cidades-satélites se originaram, por um lado, da necessidade de infraestrutura de apoio para a construção de Brasília, nos casos em que foram previamente planejadas; e, em outros casos, surgiram de forma espontânea devido à crescente demanda habitacional oriunda do intenso fluxo migratório. Acreditava-se que grande parte desses trabalhadores, após a conclusão das obras da nova capital, retornariam a seus locais de origem, o que não ocorreu. Foi para essa população, alojada em ocupações informais, que as cidades-satélites foram criadas. O deslocamento dos trabalhadores para essas cidades envolveu ações coordenadas pelo governo e incluíam a promessa de propriedade dos lotes, com oferta de infraestrutura e escolas.

Planaltina, 1859

Distante 38,5 km do Plano Piloto, Planaltina se configura como o núcleo urbano mais antigo preexistente à construção de Brasília. Antes mesmo de se tornar uma cidade-satélite, ainda com a denominação de Vila de Mestre d’Armas, o local serviu como um ponto de apoio para a Comissão Cruls, responsável pelos primeiros estudos e relatórios técnicos que posteriormente resultaram na escolha do sítio para a implantação da nova Capital Federal. Após a delimitação do quadrilátero de Cruls, Planaltina é desmembrada em dois territórios, Planaltina e Planaltina de Goiás. Atualmente nomeada como RA-VI, destaca-se no Distrito Federal pela produção agrícola, principalmente de grãos e gado leiteiro, e pela importância de seu patrimônio histórico e ambiental, com a presença da Estação Ecológica de Águas Emendadas e a bacia hidrográfica de São Bartolomeu. É caracterizada pelas atividades religiosas, como a festa do Divino Espírito Santo e Via-Sacra, e pela arquitetura colonial, destacando-se a Igreja de São Sebastião e o Museu Histórico e Artístico de Planaltina.

Brazlândia, 1933

Brazlândia é efetivada como cidade em 1933, sendo antes disso uma extensão agrícola de Luziânia. Junto com Planaltina, formam as preexistências do território de Brasília. Parte de suas terras foram desapropriadas e algumas fazendas ali situadas foram submersas pelo represamento do rio Descoberto, que abastece a cidade. Distante a quase 40 km de distância do centro da construção da nova capital e com a mudança do traçado da rodovia de conexão Brasília-Anápolis, a RA IV ficou à margem das rotas mais expressivas da época, repercutindo no seu crescimento lento no início da transferência da capital. Por volta de 1995, a Companhia Energética de Brasília (CEB) conduziu uma obra de grande escala para alcançar as propriedades rurais. Em 1997 aconteceu a expansão de abastecimento e saneamento para assentamentos identificados em várias cidades e que até então não eram cogitados nas frentes de implementação de serviços, entre eles a Almecegas (Brazlândia) e, a partir de 2003, na Vila São José, também Brazlândia. A mancha urbana cresceu exponencialmente por todo o Distrito Federal, com loteamentos privados que ocuparam, principalmente, as porções norte e leste do quadrilátero. Em 2006, a RA IV praticamente duplicou sua extensão, como resultado do aumento no empenho dos setores públicos de aumentar a qualidade de vida do entorno e sua consequente atratividade. Hoje, Brazlândia é um centro de atividades culturais e, conforme Araújo, da Agência Brasília (2021), é responsável por abrigar 90% dos produtores de morangos do Distrito Federal, sendo a sétima maior produtora da fruta do país.

Núcleo Bandeirante, 1956

O Núcleo Bandeirante, originalmente denominado Cidade-Livre, devido à ausência de impostos, representa a primeira ocupação urbana dos candangos e foi construída inicialmente com caráter provisório para dar apoio e infraestrutura à construção de Brasília. A região cumpria importante função comercial, caracterizado pelo abastecimento básico e almoxarifado, porém, devido a intensidade das imigrações, a região abrigou irregularmente grande parte da demanda populacional do período da construção da capital. Após a inauguração de Brasília, em 1961, o Núcleo Bandeirante foi transformado em núcleo urbano permanente devido ao forte movimento de fixação dos moradores. Atualmente, a RA VII se distribui ao longo de duas grandes avenidas paralelas e exerce importante influência comercial nas demais regiões administrativas, concentrando micro e pequenas empresas do Distrito Federal. Destacam-se alguns dos marcos históricos da cidade, como o Museu Vivo da Memória Candanga.

Candangolândia, 1956

De muitos nomes, Vila Operária, Vila Candanga, ou ainda Velhacap, a Candangolândia foi a morada dos pioneiros que trabalharam na construção da capital, os candangos, que ali permaneceram contrariando as premissas governamentais, que previam o desmonte dos acampamentos operários. Era destinada à função administrativa e de suporte à mão de obra, coexistindo com a região do Núcleo Bandeirante (Cidade Livre), configurando o complexo de apoio à construção de Brasília. Ambas as cidades acolhem patrimônios de relevância, com a Praça dos Estados (antiga Praça das Nações), localizada na entrada da Candangolândia, representando a diversidade de estados que formaram o local, e ainda conta com a Alameda dos Pioneiros, local que homenageia os primeiros moradores da Candangolândia, com seus nomes escritos em placas metálicas. Como registra Graciete Guerra (2011), embora as ocupações datem desde 1956, apenas em 1989 a cidade foi reconhecida como núcleo urbano permanente e recebeu, em 1994, o título de Região Administrativa da Candangolândia (RA XIX). A pequena cidade localiza-se entre o Jardim Zoológico de Brasília e do Santuário Ecológico do Riacho Fundo, faz parte do Polo Ecológico de Brasília. Para Guerra, a RA XIX é como uma “ilha dentro de um corredor ecológico”. Na região, ainda há vestígios das pequenas casas de madeira e, resguardando as tradições locais e as memórias da construção de Brasília, enconta-se a Igreja São José Operário, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 1998, por ser o local em que foi realizada a primeira Missa de Brasília.

Paranoá, 1957

Núcleo urbano que margeia o lado norte da Barragem do Lago Paranoá, foi também concebida para ser acampamento provisório para trabalhadores da construção civil. Entretanto, como bem pontua Leila Saads (2014), depois de longos anos marcados por intensos processos de ocupação e resistência, a Vila Paranoá conquistou, em 1988, o direito de se constituir como Região Administrativa.

Acolhe uma extensa região que articula o Paranoá (RA VII), São Sebastião (RA XIV), Jardim Botânico (RA XXVII) e Itapoã (RA XXVIII). Seu território está alocado em meio a zonas de proteção ambiental e conta com expressiva atuação de produtores rurais e cooperativas agrícolas. Curiosamente, como observa Graciete Guerra (2011), os principais núcleos rurais são Jardim e Sobradinho dos Melos, os mesmos do início da ocupação da região. Destacam-se atualmente, na região, pontos históricos como a Igreja São Geraldo, localizada no Parque Ecológico Vivencial do Paranoá.

Taguatinga, 1958

Localizada inicialmente no município de Luziânia, Taguatinga surge anteriormente à construção de Brasília com a função de conter a ocupação e o crescimento populacional desenfreado da Cidade-Livre devido à intensa imigração, principalmente das famílias nordestinas atingidas pela seca que buscavam, com as obras de Brasília, novas oportunidades. Apesar de seu surgimento espontâneo, o traçado da cidade já havia sido previsto por Lucio Costa para, posteriormente, tornar-se uma cidade-dormitório, mas foi antecipado e adaptado à demanda habitacional. Localizada a 19 km do Plano Piloto, Taguatinga é uma região consolidada e um importante polo regional com forte atividades industrial e comercial. Entre os principais símbolos da cidade, destaca-se o Relógio da Praça Central.

Cruzeiro, 1959

O Cruzeiro foi assim batizado pela proximidade com o local onde a primeira Missa de Brasília foi realizada, em 1957, mas antes disso era popularmente conhecida como Gavião, por causa de uma ave vermelha comum na região. A sigla urbanística inicial era Setor de Residências Econômicas Sul (SRES) e designava um dos subúrbios de Brasília, sede dos funcionários públicos do Rio de Janeiro trazidos para a nova capital. Difere das outras cidades-satélites pela proximidade com o centro urbano do Distrito Federal. Conforme se deu seu crescimento, a região se entrecruzou ao tecido do Plano Piloto, até que em 1989 a Região Administrativa do Cruzeiro foi oficialmente desmembrada da RA I – Brasília. A RA XI faz parte da área de tombamento do Plano Piloto e é Patrimônio Histórico e Artístico da Humanidade, conforme decreto do IPHAN.

referências

ARAÚJO, Lívio Di. Morango é a grande atração de feira em Brazlândia. Agência Brasília, Brasília. 2021. Disponível em: https://www.agenciabrasilia.df.gov.br/2021/09/04/morango-e-a-grande-atracao-de-feira-em-brazlandia/ | Acesso em: 24 ago. 2021.

BRITO, Jusselma Duarte de. De Plano Piloto a metrópole: a mancha urbana de Brasília. 2009. 346 f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de Brasília, Brasília, 2009. Disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/3970 | Acesso em: 21 dez. 2021.

COSTA, Graciete Guerra da. As regiões administrativas do Distrito Federal de 1960 a 2011. 2011. 513, 165 f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de Brasília, Brasília, 2011. Disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/9987 | Acesso em: 21 dez. 2021.

DERNTL, Maria Fernanda. Além do Plano: a concepção das cidades-satélites de Brasília. Arquitextos, São Paulo, ano 19, n. 221.03, Vitruvius, out. 2018. Disponível em: https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/19.221/7150 | Acesso em: 22 ago 2021.

SAADS, Leila. Do madeirite ao cimento: memórias de mulheres nas lutas pró-fixação no Paranoá (1981-1993). 2014. 151 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade de Brasília, Brasília. 2014. Disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/17869 | Acesso em: 22 dez. 2021.

SILVA, Ernesto. História de Brasília: um sonho, uma esperança, uma realidade. Brasília: Linha Gráfica. 1999.

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