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glossário

EDIFÍCIO ICÔNICO

Edificio Iconico-imagem.png

  A Cidade do Turismo Global - colagem dos autores   

Soa mal e muitos lamentam a arquitetura de celebridade. Querem voltar no tempo; tendem a condenar qualquer desvio do modernismo minimalista como kitsch; e ficam muito indignados, sem perceber que sua reação pode amplificar os pecados que tentam encobrir, já que a paranoia, como veremos, é uma parte essencial de nossa situação midiática. Além disso, uma vez que a cultura global não tem fé unificadora, o edifício icônico continuará a prosperar, talvez até mesmo a aumentar em volume. [...]

Charles Jencks, Iconic Building, 2005. [p. 7, tradução nossa, grifo nosso]

Emerson Wallace M. Moura

Talita Regina M. Andrade

[ jun. 2021 ]

remissivos

O edifício icônico é um termo complexo, melhor entendido ao se destrinchar seus elementos essenciais, com uma ordem de entendimento. Consideraremos, primeiramente, a arquitetura de grife e os arquitetos-estrela que a produzem. Observando os agentes produtores desse tipo de construção, encontramos os agentes originadores, uma clientela composta por instituições governamentais ou grandes empresários que deseja destacar suas cidades no âmbito global, encomendando estas arquiteturas de grife. Esses edifícios levantam muito alvoroço mesmo durante sua construção e, de forma geral, uma vez concluídos, promovem grande valorização da área em que se instalou – fenômeno associado à espetacularização urbana e ao turismo em grande escala. As operações em se que inserem, no entanto, tende a expulsar a população da própria cidade, criando espaço para o turista ou escritório de negócios eventual. Essas consequências fazem parte do chamado “efeito Bilbao”, tomando como exemplo a cidade espanhola que entrou para o mapa do alto circuito global com o Museu Guggenheim, inserindo-se no complicado ciclo vicioso de sempre precisar apresentar algo maior e melhor para manter vivo o encanto pela cidade (JENCKS, 2005; 2012; FRAMPTON, 2015). Desenvolve-se, a seguir, os elementos apresentados nesta breve introdução.

O edifício icônico é produzido pelos arquitetos-estrela, um distinto grupo de arquitetos que possui liberdade infrequente que vem alinhada com a sua fama, criando obras com assinatura, ou grife, geralmente bem recebidas pelo público, porém mescladas com várias críticas ao seu processo e resultado (ARANTES, 2012; VALENÇA, 2016). Seu produto, como assim pode ser chamado, tendo em vista a intrínseca ligação com ambições muito mais comerciais e econômicas do que arquitetônicas e urbanísticas, é geralmente requisitado pelo governo de uma localidade ou por empresários com o intuito de estabelecer um marco ou identidade imagética na cidade.

É um tipo de edificação simbólica e flexível, que busca agradar a todos, evoca todas as possíveis ideias, mas ao mesmo tempo, não pode ser determinada por nenhuma em específico (JENCKS, 2005; 2012). Não costuma corroborar com nenhum assunto muito polêmico, mantendo-se neutro e complacente. O significado da obra é dado pelo observador que atribui a ela significados coerentes, e isso traz uma imensa pluralidade de conceitos que variam de acordo com cada um e ao mesmo tempo, todos podem coexistir na explicação. É bem focado nas percepções e nos sentimentos; em vez de algo puramente claro é diretamente apreensível. Sua forma não é muito complexa, mas imensamente chamativa e abstrata. Com isso, tende a ser extremamente superficial, mas amplamente atrativo. O foco está na forma, em detrimento da função. Ele oferece algo atraente, supostamente único para o skyline da cidade, mesmo que não seja fruto de uma demanda da coletividade.

O fato que motivou sua aparição foram os desejos vindos de clientes com o intuito de destacar a sua cidade em âmbito global. Nesse sentido, podemos dizer que a espetacularização urbana faz parte desse contexto da arquitetura icônica, onde o mais importante é o que aquilo pode trazer para os investidores e não o que aquele edifício pode trazer para agregar enriquecer a experiência das pessoas que vivem na cidade (JACQUES, 2004). Apenas os aspectos supostamente estéticos e de interesse do capital são levados em consideração.

A experiência da arquitetura moderna, mesmo nas situações em que aspirava a ter efeitos transformadores, do ponto de vista social, sempre esteve associada às dinâmicas do grande capital. A popularização da arquitetura na passagem entre os séculos XX e XXI, no entanto, tomou outras proporções dado o potencial que se atribuiu a obras de grife, dos chamados arquitetos-estrela, em impulsionar a economia local das cidades. Vem daqui a expressão "efeito Bilbao” (FRAMPTON, 2015), muito difundida a partir de meados dos anos 1990, e representando o contexto de disputa entre cidades para terem edifícios icônicos com o mesmo impacto midiático da obra de Frank Gehry.

Devido à facilidade encontrada para viajar para diversos lugares do mundo, tornou-se possível o turismo de massas, mesmo contexto em que emergem os chamados arquitetos-estrela. Esses profissionais da arquitetura rivalizam entre si na projeção de edifícios monumentais. Numa visão geral, aos edifícios icônicos não interessa construir uma relação direta com o contexto urbano e, mesmo na escala da arquitetura, a funcionalidade é deixada em segundo plano. Ao passo em que se desenvolvem essas grandes construções, o número de pessoas desfavorecidas em grandes cidades mundiais aumenta expressivamente. Com o passar do tempo, é bastante provável que os campos também se tornem partes dessas grandes cidades, devido à urbanização planetária associada à expansão do capitalismo.

referências

ARANTES, Pedro Fiori. Arquitetura na era digital-financeira: desenho, canteiro e renda da forma. São Paulo: Editora 34, 2012.

FRAMPTON, Kenneth. História crítica da arquitetura moderna. Tradução: Jefferson Luiz Camargo e Marcelo Brandão Cipolla. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2015.

JACQUES, Paola Berenstein. Espetacularização urbana contemporânea. Cadernos PPGAU, Salvador, ano II, n. especial, p. 23-29, 2004. Disponível em: <https://periodicos.ufba.br/index.php/ppgau/article/view/1684> Acesso em: 21 mai. 2021.

JENCKS, Charles. Iconic building. Nova Iorque: Rizzoli, 2005.

JENCKS, Charles. The story of Post-Modernism: five decades of the ironic, iconic and critical in architecture. Chichester: Wiley, 2011.

VALENÇA, Márcio Moraes. Arquitetura de grife na cidade contemporânea: tudo igual, mas diferente. Rio de Janeiro: Mauad X, 2016.

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