glossário
PAISAGENS FUNCIONAIS
Relação entre biodiversidade e escala geográfica, de acordo com a análise de Pioani e Richter (1999).
[...] A conservação de sistemas ecológicos, comunidades e espécies em escalas múltiplas dentro de uma única paisagem intacta promove uma estratégia de conservação ecologicamente mais integrada. Paisagens funcionais típicas produzem mais e maior diversidade de habitats e maiores populações de espécies conhecidas e desconhecidas. Devido ao seu complexo e amplo gradiente ambiental, elas também oferecem maior proteção contra mudanças climáticas. [...].
Karen Pioani e Brian Richter, Paisagens Funcionais e a Conservação da Biodiversidade, trad. Luciana Honigman. 1999. [ p. 7, grifo dos autores ]
Giulliana Chaves de Sá Ribeiro
Ianna Nunes Carvalho
[ jun. 2021 ]
remissivos
Paisagem funcional é uma reserva natural que visa proteger um grande número de ecossistemas, comunidades naturais e espécies em localidades amplas e médias. Para ser possível a conservação da biodiversidade é necessário, antes de mais nada, ter conhecimento sobre as diversas escalas catalogadas pela organização The Nature Conservancy (TNC) de acordo com a sua espacialidade (PIOANI e RICHTER, 1999):
● Escala Local: engloba ecossistemas de tamanho reduzido, como pântanos, penhascos e brejos. Em geral, tanto as espécies terrestres quanto as aquáticas têm movimento limitado a um único sistema.
● Escala Intermediária: engloba ecossistemas de grandes parcelas e que interagem com as áreas adjacentes. As espécies terrestres dependem de uma série de habitats diferenciados, enquanto os habitats aquáticos (córregos e lagos) são compostos de diversos habitats.
● Escala Ampla: engloba gradientes físicos, como precipitação, relevo e temperatura, que se relacionam com as áreas ao seu redor. As espécies terrestres e aquáticas, geralmente, precisam de uma grande área para desenvolver suas atividades.
● Escala Regional: engloba as espécies que além de precisarem de grandes áreas para sobreviver, também exercem fluxos migratórios.
Do ponto de vista do campo da Conservação Ambiental, os objetivos de proteção das paisagens funcionais são, normalmente, projetados para representar muitos ecossistemas, comunidades e espécies conhecidas ou desconhecidas. A paisagem funcional possui um alto grau de integridade ecológica e pode reter ou restaurar a maioria ou todos os seus principais elementos, padrões e processos. Em hipótese alguma deve ser confundido com um sítio funcional, uma vez que este não apresenta tantos alvos e frequentemente compartilham processos ecológicos entre si. Cabe às paisagens funcionais garantir a continuidade e integralidade natural dos sistemas ecológicos englobados por elas. Dentre os locais considerados paisagens funcionais por Pioani e Richer (1999), constam: Costa Leste da Virgínia, Malpai, Baixo Ozarks, Base Aérea Americana de Englin, Laguna Madre e Montanhas Bighorn).
Vale ressaltar que esta área só se configura como funcional uma vez que é possível garantir o mantimento, a longo prazo, de seus integrantes. Isto significa que devem estar presentes todas as espécies de fauna e flora deste ecossistema, bem como deve ser verificados: se os distúrbios naturais ocorrem dentro da normalidade e se o ecossistema consegue se recuperar uma vez que estes acontecem; se todas as espécies conseguem completar seu ciclo de vida; e se as mesmas têm acesso aos habitats necessários para completar tal ciclo.
No campo da Geoecologia, o entendimento sobre o “funcionamento” das paisagens é central à sua conceituação e categorização, constituindo-se como um “[...] processo de intercâmbio de substâncias e energia que ocorre na interação dos componentes na própria paisagem com o exterior.” (RODRIGUEZ, SILVA e CAVALCANTI, 2017, p. 127). A categorização da estrutura funcional das paisagens vai depender, por um lado, de questões estritamente físicas, dos elementos que determinam sua gênese ou de sua posição com relação às bacias. Com relação à sua categorização, diferentemente do que se vê no campo da Conservação Ambiental, para a Geocologia parecem interessar mais as relações estabelecidas entre os componentes de determinada paisagem do que sua inserção em determinada escala ou espacialidade. Assim, do ponto de vista de sua organização territorial, os tipos funcionais podem ocorrer como janelas paisagísticas, corredores de trânsito (relacionados ao intercâmio de substâncias e energias), faixas “buffer” e áreas de pequena dimensão. (RODRIGUEZ, SILVA e CAVALCANTI, 2017, p. 130-132).
referências
PIOANI, Karen; RICHTER, Brian. Paisagens funcionais e a conservação da biodiversidade. Trad. Luciana Honigman. Documento de Trabalho em Ciências da Conservação, n. 1. [S.l.]: The Nature Conservancy, set. 1999. Disponível em: https://documentacao.socioambiental.org/documentos/L9D00022.pdf | Acesso em: 18 mai. 2021.
RODRIGUEZ, José Manuel Mateo; SILVA, Edson Vicente da; CAVALCANTI, Agostinho Paula Brito. Geoecologia das paisagens: uma visão geossistêmica da análise ambiental. Fortaleza: Edições UFC, 2017. Disponível em: http://www.ppggeografia.ufc.br/images/documentos/043710J_MIOLO_Geoecologia.pdf | Acesso em: 18 mai. 2021.