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glossário

URBANISMO SUSTENTÁVEL

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Exemplos de “urbanismo sustentável de última geração”, de acordo com Douglas Farr: (1) Dockside Green Vitória, no Canadá; (2) Ecocidade Dongtan, na China; e (3) Cidade de Palulehua, no Havaí, Estados Unidos. Fonte: Farr (2013).

Em síntese, o urbanismo sustentável prima pela diversidade de usos e funções sobrepostos em um tecido denso e compacto, porém, que respeite as condicionantes geográficas e ambientais locais e regionais, bem como as escalas e proporções adequadas de apropriação do espaço público e privado. O lugar, o particular a identidade cultural e as especificidades são alguns dos principais atributos que devem estar presentes na urbe do futuro [...].

Geovany Silva e Marta Romero, "Sustentabilidade Urbana Aplicada", In: EURE, v. 41, n. 122, 2015. [ p. 215 ]

Letícia Silva Rodrigues

Luana Nascimento Rocha

[ jun. 2021 ]

remissivos

As preocupações com as questões ambientais, em escala planetária, surgem com movimentos ligados à Ecologia na década de 1960. Um dos marcos desse período, o Clube de Roma, foi criado em 1968 com o objetivo de entender os componentes do sistema global em que vivemos, alimentar o debate público e promover políticas de ação com relação ao meio ambiente. Tornou-se internacionalmente reconhecido a partir da publicação do relatório The limits to growth, em 1972, em que autoras e autores confrontam o paradigma do crescimento material contínuo e a busca de expansão econômica sem fim (MEADOWS et. al., 1972). As condições climáticas do planeta também inspiraram ideias como as de James Lovelock, criador da “hipótese de Gaia”, nos anos 1970, que entende a Terra como um superorganismo do qual o ser humano faz parte.

O urbanismo, enquanto campo disciplinar dedicado à reflexão crítica e propositiva da ocupação das cidades, incorporou as questões relevantes desse período, oferecendo alternativas para diminuir os impactos da vida urbana sobre o meio ambiente. Uma dessas questões foi a sustentabilidade, conceito bastante explorado e igualmente questionado, pois, quando aplicado ao urbanismo, pode servir de à reprodução do que deveria questionar, isto é, os modelos de cidade planejada dispersa (ANDRADE, 2014). Uma formulação amplamente aceita de sustentabilidade vem de Ignacy Sachs, que a entende a partir de cinco dimensões: a social, em que defende a equidade ao acesso de serviços sociais e a distribuição dos recursos; a cultural, que propõe soluções de acordo com condições locais; a econômica, com o objetivo de gerir de forma eficiente os recursos disponíveis; a espacial, que defende uma configuração rural-urbana em equilíbrio, com uma distribuição territorial que preserva as reservas naturais, possibilita atividades da indústria e de pequenos produtores e onde a moradia estabelece uma relação coerente e sustentável com a urbis; e a ecológica, na qual se estabelecem parâmetros de ação como a intensificação de pesquisas de tecnologias limpas e a limitação do consumo de combustíveis fósseis, dentre outras propostas.

Em linhas gerais, o “urbanismo sustentável” busca responder às necessidades atuais, de modo a minimizar os impactos sobre a estrutura social, econômica e ambiental das cidades. Serve de contraponto a uma visão limitada do urbanismo moderno, que se baseava na setorização rígida das funções da cidade e em uma expansão, majoritariamente, horizontal. Apresenta-se, ainda, como uma alternativa ao avanço desmedido sobre o território que levou à criação de grandes infraestruturas para deslocamento e ao surgimento dos subúrbios, verdadeiras cidades-dormitórios.

Seu aprofundamento, no entanto, precisa dar atenção às particularidades de cada contexto em que foi teorizado. Para Geovany Silva e Marta Romero (2011; 2015), o urbanismo sustentável é o estudo e prática de ações pertinentes à escala da cidade, em consonância com aspectos sociais, culturais, políticos e ambientais. Propõem a constante manutenção do tecido urbano consolidado, bem como intervenções nos espaços cuja expansão se faz necessária e em favor de melhorias na escala do cotidiano e da cidade como um todo. Compõem o urbanismo sustentável, na visão dos autores, o exercício de reflexão e a gestão da paisagem urbana que valoriza princípios de mobilidade e acessibilidade na utilização dos espaços, assim como no uso do sistema viário pelos habitantes; o reconhecimento e a análise de índices demográficos, com distintas realidades, sejam elas sociais, econômicas e/ou culturais; o estudo da morfologia urbana em escala macro, bem como das próprias edificações e dos “vazios” que as circundam, em escala micro; e a consciência ambiental e ecológica como um todo, por meio de atitudes alinhadas com a preservação dos recursos hídricos e de áreas verdes, com o uso de energias limpas, renováveis, além do incentivo ao reuso e à reciclagem, com estratégias que buscam reduzir a poluição e seus efeitos dentro e fora do contexto urbano.

Outras contribuições ao debate vêm de Jan Gehl e Douglas Farr. No caso de Gehl (2015), o urbanista dinamarquês estabelece pontos para o urbanismo sustentável que integram sua teoria sobre “cidade para pessoas”. Na visão de Farr, essa abordagem do urbanismo se insere numa crítica mais ampla ao estilo de vida estadunidense que, do ponto de vista de seu histórico, deriva das contribuições de três outros debates: a cidade inteligente, o Novo Urbanismo e a adoção de parâmetros sustentáveis para a construção. Ainda de acordo com o autor, essa abordagem deve considerar, como princípios básicos, a necessidade de um sistema de transporte público de qualidade e a garantia da possibilidade de deslocamento a pé, associada a construções de alto desempenho, nas escalas da arquitetura e da infraestrutura (FARR, 2013).

Para Douglas Farr, esta abordagem deve considerar, como princípios básicos, a necessidade de um sistema de transporte público de qualidade e a garantia da possibilidade de deslocamento a pé, associada a construções de alto desempenho, nas escalas da arquitetura e da infraestrutura (FARR, 2013). O autor insere a discussão numa crítica mais ampla ao estilo de vida do modelo estadunidense e, do ponto de vista de seu histórico, entende que o urbanismo sustentável deriva das contribuições de três outros debates: a cidade inteligente, o Novo Urbanismo e a adoção de parâmetros sustentáveis para a construção.

referências

ANDRADE, Liza Maria de Souza. Conexão dos padrões espaciais dos ecossistemas urbanos: a construção de um método com enfoque transdisciplinar para o processo de desenho urbano sensível à água no nível da comunidade e da paisagem. 2014. 544 f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Programa de Pós-graduação da FAU-UnB, Universidade de Brasília, Brasília, 2014. Disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/18042 | Acesso em: 21 mai. 2021.

FARR, Douglas. Urbanismo sustentável: desenho urbano com a natureza. Tradução: Alexandre Salvaterra. Porto Alegre: Bookman, 2013.

GEHL, Jan. Cidades para pessoas. 3. ed. Tradução: Anita Di Marco. São Paulo: Perspectiva, 2015.

MEADOWS, Donella et. al. The limits to growth. Washington: Potomac, 1972. Disponível em: http://www.donellameadows.org/wp-content/userfiles/Limits-to-Growth-digital-scan-version.pdf | Acesso em: 21 mai. 2021.

SILVA, Geovany Jessé Alexandre da; ROMERO, Marta Adriana Bustos. O urbanismo sustentável no Brasil: a revisão de conceitos urbanos para o século XXI (parte 01). Arquitextos, São Paulo, ano 11, n. 128.03, Vitruvius, jan. 2011. Disponível em: https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.128/3724 | Acesso em: 21 mai. 2021.

SILVA, Geovany; ROMERO, Marta. Sustentabilidade urbana aplicada: análise dos processos de dispersão, densidade e uso e ocupação do solo para a cidade de Cuiabá, Estado de Mato Grosso, Brasil. EURE, Santiago do Chile, v. 41, n. 122, p. 209-237, jan. 2015. Disponível em: https://scielo.conicyt.cl/pdf/eure/v41n122/art10.pdf | Acesso em: 21 mai. 2021.

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